segunda-feira, 12 de abril de 2010

Chocolates, pães e docinhos de coco

Neste post não vou falar sobre coelinhos de Páscoa, carros e nem falhas bancárias.

Resolvi hoje falar um pouco de mim, para reclamar, protestar, desabafar... pois estou sentindo MUITA falta de ter uma vida minha! Onde posso ter mais tempo para mim, para me cuidar, me entreter e me divertir com meus amigos e família (e não sozinha, como tenho sido obrigada aqui por falta de amigos). E essa angustia que ando sentindo é completamente diferente de qualquer uma que senti na minha vida (e olha que foram muitas)!! E pela primeira vez, ando comendo feito uma louca (apesar de ter emagrecido 2kg desde que cheguei), devorando uma barra de chocolate ao dia, muitos pães, sumindo com pacotes de biscoito em 5 minutos..... A saudades somada a essa angustia-comilança era tanta que Sábado, num raro momento da semana que fiquei sozinha em casa, resolvi fazer a lata de Beijinho que trouxe comigo, tendo que lutar para abrí-la pois não achei o abridor de lata (ou não conseguir usar o que tinha julgado ser um abridor de latas moderno). Vou ter que descobrir logo uma casa de produtos Brasileiros que venda isso e que seja perto!!

Na verdade, na língua inglesa existe uma palavra que define perfeitamente o sentimento que tenho tido na ultima semana: Homesick. O significado segundo o dicionário Michaelis: home.sick: adj saudoso da pátria, do lar e da família. to be homesick sentir saudade da pátria, do lar e da família.

Não estou falando que estou morrendo de saudades do Brasil (hahahaha), mas sim da família, amigos e de ter uma vida mais minha! Pois de fato, a opinião que tinha sobre a Alemanha, de que o mesmo se tratava de um país notável, foi certamente confirmada. A estrutura e qualidade de vida daqui são realmente excelentes! Algumas coisas que aqui existem não conseguem dar margem de comparação a nada que temos no Brasil, como por exemplo a cena que vi essa Quarta-Feira - o dia mais quente desde que cheguei aqui (e que saí de casa sem casaco e roupas de lã) - que foi de, em plena 6 horas da tarde, a praça principal da cidade estar lotada de gente passeando, muitos deles tendo acabado de sair do trabalho, sentados na grama (com muitas flores ao redor), nos bancos da praça, nas escadarias do shopping em frente ou até mesmo nos barzinhos que tem no meio das largas ruas (somente para pedestres), simplesmente aproveitando a primeira linda tarde quente e de sol deste ano. Eu estou para corroborar mais isso no verão, mas os europeus aproveitam e curtem muito mais o sol e o calor do que nós, que o temos praticamente 9, 10 meses do ano.

E para dar outro exemplo, como do sistema de transporte, o fato de poder me locomover rapidamente pela cidade no sistema de U-Bahn, que sim, é mais lento do que o Metrô, mas muito mais organizado e principalmente VAZIO é simplesmente um sonho! O máximo de lotação que vi aqui seria comparável ao Metrô de São Paulo na tarde de um Sábado ou de umas 15 horas de um dia de semana. Todos os banco são acolchoados, ar-condicionado interno, sistema de luzes que apagam quando o trem está na superfície, horários exatamente cumpridos (se você perdeu o U-Bahn das 7h13, pode esperar o das 7h18. E isso também vale para os outros dois sistemas de transporte) e estações sem catracas! Eu já tinha ouvido muito falar disso, mas vendo pessoalmente é bem mais estranho. Mas é claro que existe um controle, pois sem um, seria como viver numa utopia. Se você estiver sem o bilhete quando um fiscal da empresa aparecer, vai acabar pagando uma multa, que se não me engano é de 40 euros (95 reais). E isso porque só falei de um sistema dos 3 existentes: Ônibus, U-Bahn e S-Bahn. E todos são integrados. Eu, com o meu bilhete mensal, posso andar em qualquer um dos três, em qualquer dia da semana e em qualquer horário, sem ficar comprando toda vez ou carregando se acabam os créditos. Mas somente por duas zonas (a cidade é dividida em 4, mas os outros dois são em cidades satélites beeem longe).

Tudo bonitinho, funcionando bem... parecendo tudo perfeito!! Seria perfeito, claro, se eu tivesse um trabalho regular de designer, tendo um apartamentinho só meu (ou mesmo dividindo com até duas pessoas legais), próximo a alguma estação de U-Bahn ou S-Bahn, num lugar legal.... ou seja, uma vida plenamente minha!
Quando estamos procurando as famílias e nos informando sobre o trabalho de Au-Pair, realmente parece tudo muito fácil e tranquilo (fora algumas histórias cabeludas). Mas somente se estando aqui para as dificuldades aparecerem. A minha em particular está ligada a minha personalidade, nem muito a família, pois eles tem sido atenciosos e muito legais. E na verdade, até demais... Nas primeiras duas semanas, eu ficava bastante no meu quarto ou saía para fazer algo sozinha (também aos fds's). Foi quando numa Segunda, minha Gast (para não falar minha chefe) me falou que se eu quisesse, poderia me juntar a eles nas refeições e atividades de fds's pois eles iriam gostar muito...
É meio estranho de entender que eles te contratam, te pagam um monte de coisa (além do salário) e ainda por cima te querem perto, fazendo DE FATO, parte da família. Você não é simplesmente um empregado que precisa cumprir as tarefas direitinho, receber e ir embora (nesse caso, ir pro quarto). Você precisa ir nos passeios, fazer parte das conversas, brincadeiras, do dia-a-dia mesmo. Na verdade isso é meio obvio, já que o trabalho é dentro de casa, de cuidar de membros da família e depois permanecer em casa quando o trabalho "acaba". Mas o perigoso disso tudo, e onde a minha personalidade atrapalha, é não deixar aparecer a linha, que estou achando agora tênue, entre meus momentos e os momentos com eles nos dias de folga. Sair com eles é bem legal, pois posso ter a oportunidade de visitar lugares interessantes, como já aconteceu no feriado de Páscoa de irmos à Legoland e aos Alpes Schwäbisches (onde andei dentro de uma gruta enorme!).

Mas onde exatamente minha personalidade atrapalha nisso? Eu, meio recentemente, virei uma pessoa que gosta muito de ficar sozinha. Quando mais tempo eu tiver para fazer minhas coisas, no meu ritmo e do meu jeito, melhor!! Por exemplo, o feriado de Páscoa pra mim virou a semana infernal. Aqui ele não é somente Sexta, Sábado e Domingo como no Brasil e sim de Quinta à Sexta da outra semana... 9 dias! Tá certo que nem tudo para completamente, mas muito fica mais tranquilo. E eu fiquei 11 dias (feriadão + fds) o tempo praticamente todo com eles (salvo os 3 dias que fui para Nürnberg e que já deu uma confusão cultural por um convide para uma festa de família "adiado"). Eu tinha que limpar meu quarto, meu banheiro, lavar minhas roupas, e ficava constrangida de simplesmente falar "quero cuidar da minha vida um pouco, tá?". Acabava dando umas escapadinhas, mas nada de longas horas de duração. Mas ficar a tarde inteira na casa ou no quarto sozinha, por exemplo, não consegui um dia. E a gente precisa disso para dar uma recuperada no nosso equilíbrio mental. Resultado dessa semana semana-sufoco: Quase ter ligado o foda-se e ter voltado pra casa.
Pra ser bem sincera, eu nem saberia o que fazer se realmente tivesse voltado, pois já me envolvi de um jeito tal com o estilo de vida daqui que nem saberia como recomeçar minha vida em São Paulo. Mas a vontade de fugir era tanta, mas tanta.... Realmente, ser Au-Pair não é algo simples, irrelevante e sem propósito como muita gente pensa. O exercício que se tem de fazer para conseguir equilibrar tudo que é necessário é maior do que a vida comum de estar morando na sua cidade/país ou mesmo em um estrangeiro, mas com vida própria. Morar na casa dos outros, que não são sua família, ser responsável por vidas tão jovens, se colocar debaixo das regras dessas pessoas de cultura diferente e ainda por cima, ter que renunciar a sua própria privacidade e um pouco de bem-estar, definitivamente, não é pra qualquer um.

A minha única motivação de não ter passado a mão no telefone e ter remarcado minha passagem de volta foi a de que eu estaria renunciando a essa experiência que me propus por causa da exata razão que me fez vir para cá: Mudança. E o desejo de conseguir essa mudança é justamente para o meu desenvolvimento pessoal, que julgo precisar para atingir a maturidade (e que na minha opinião me falta) para chegar à próxima etapa da minha vida, que será a de morar sozinha ou de começar a minha própria família.

De fato, esse desenvolvimento VAI VIR a base de bastante sofrimento, renuncia, de mudança de conceitos, pontos de vista e atitudes. É então que agora falo, para os que achavam que eu estava fazendo a maior burrada da minha vida, por se tratar de uma atividade boba e vazia: Vem ser Au-Pair, vem....

3 comentários:

Rafael Ramos disse...

Realmente assim que a gente chega, a primeira sensação é a de deslumbramento, é ótimo estar aqui e não ter as mesmas preocupações do Brasil. Depois quando bate uma certa rotina, surgem umas idéias de "o que é que eu tô fazendo aqui?". Mas se você conseguir deixar isso um pouco de lado, colocando na cabeça que vai ficar um tempo x (que pode virar x+n) e que esse tempo, quantativamente insignificante diante toda a linha de tempo da tua vida, é na verdade, um dos períodos mais importantes dela, todo o clima ao teu redor muda. É durante esse tempo que você vai se definir. Solidão faz parte, solidão te amadurece, mas não vai durar tanto quanto você imagina. Com mais prática no alemão, conhecendo as pessoas certas, nos lugares certos (afinal, também não pode avacalhar e sair com qualquer pessoa que no final não te faz bem algum) esse problema fica pra trás, pra dar lugar a tantos outros que você vai acabar sabendo como lidar.
Sem as pessoas que sempre te acompanharam, que te conhecem profundamente, você vai cair muitas vezes, mas a cada levantada, vai se orgulhar de tê-las feito com forças próprias. E aí, quando voltar ao Brasil e nos virmos de novo em 2012 (sim, porque a gente só se vê de 3 em 3 anos né? =P), vamos dar muita risada de tudo o que passamos.

=***

Anônimo disse...

Força magrela. Não se esqueça que teve gente conhecida que saiu do Baixio da Picada no Siará e foi prá Sunpaulo e sobreviveu. E outro baiano que foi caçar gelo, abandonando praia, acarajé, churrasco e papinha da mamãe só por causa de muié.....hehehehehehe.

Beijo e força; no futuro voce vai agradecer a voce mesma.

Mariana disse...

ufaaa terminei rsrs

é flor sei exatamente o que voce esta querendo dizer, senti e ainda sinto muito isso, vc esta no brasil, se imaginando aqui ai chega na alemanha tudo parece ser lindo e maravilhoso, mas so basta 15 dias ou menos para descobrir que as coisas nao sao tao lindas e perfeitas como imaginavamos, que cuidar de crianca e limpar a casa nao eh facil... e mesmo q eles tentam amenizar as coisas tentando fazer com que nos sentimos em casa, no fundo a gnt sabe que somos SIM apenas um empregado, sinto isso agora principalmente pq estou sozinha sem amigos aqui, pq chega o fds,ficamos em casa e entre um favor e outro vc se encontra trabalhando em pleno fds pqp viu rsrs isso que eh foda, por isso q de fds eu tento ao maximo ficar dentro do meu quarto pra ver se eles esquecem um pouco de mim, e tem funciondo, quando nao saio para dar minhas voltinhas...
Teve um tempo q pensei em voltar tb mas minha mae deu um chilique dizendo q se eu voltasse seria um vexame kkkkk e de fato seria mesmo, mas depois pensei exatamente como vc : e os meus objetivos que vim buscar aqui, alem de aprender outra lingua, e outra cultura, poder viajar mt rsrs, me divertir mt tb alem do principal, amadurecer, pq tb senti q proximo aos meus pais eu nao iria conseguir isso tao cedo, sinto uma puta falta deles todo domingo é a maior choradeira no skype mas sei q irá valer a pena


beijinhos